terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capítulo XI - Laurence Richmore Smith

No sábado, às oito e meia da manhã, já estavam de pé Frank e Eve. Ambos prontos para a busca por Laurence. Sabiam que ela estaria em casa, a esperança dos dois era mais forte do que qualquer outra coisa.
Resolveram ir de metrô. Iriam se expor a algo desconhecido, melhor que fossem sem o carro. Chegaram ao endereço marcado na folha de papel às nove e meia da manhã. Estavam exatamente parados em frente a casa simples da Av. Sir Ranulf Brand, 144. Uma casa de madeira revestida. Não tão velha, mas pelos maus tratos parecia uma casa antiga, quase que sem moradores. O jardim simplesmente não dava sinal de vida. Havia três roseiras, três roseiras secas em meio a uma grama quase morta rodeada de caminhos de pedras.
Um frio se passou pela barriga de Frank. Era tudo ou nada. Sua liberdade ou sua clausura.
“Procure um lugar para ficar. Assim que conseguir falar com ela eu lhe aviso e peço para que venha.” Evelyn.
“O quê? Como assim? Eu preciso falar com ela.”
“Sim querido, eu sei. Mas eu acharia estranho se um casal batesse na minha porta para colher informações sobre a minha vida.”
“Está certo.”
“Sei exatamente o que falar.”
“Confio em você.”
Eles se beijaram.
“Boa sorte, meu amor.” Frank.
“Vou precisar.”
Eve atravessou a rua e adentrou no quintal da casa, seu coração estava batendo forte. Sentia que algo estaria por dar errado, mas resolveu ignorar o pensamento e ir em frente. Tocou a campainha.
Uma senhora velha e desconfiada atendeu a porta. Havia rugas em sua testa e o mau humor lhe tomava conta da face.
“O que quer?” Ela disse depois de analisar Eve de baixo para cima.
“Gostaria de falar com a Srta. Smith. Por favor.”
“Laurence?”
“Isso. Ela se encontra?”
“Do que se trata?”
“Visita social, apenas. Sou psicóloga do centro para jovens infratores.”
“Ah, muito bem! Pois entre. Ela está tomando banho. Deseja uma xícara de chá? Está tão frio lá fora.” A senhora que parecia ser a pessoa mais ranzinza do mundo, de uma hora para outra tornou-se meiga e doce.
Já dentro da casa, Eve observou tudo o que podia. Discretamente. A senhora levou-a direto para a cozinha.
“Você é a mãe dela?”
“Sou avó. Laurence mora comigo desde que foi expulsa da casa dos pais.”
“Certo. E pode me dizer algumas coisas sobre ela?”
“É uma boa menina, me ajuda muito em casa. O que não gosto são das companhias dela. Por acaso ela se envolveu em algum problema?”
“Não senhora. Como disse, é apenas uma visita social. Ela não foi mais ao centro então me mandaram até aqui para que conversasse sobre a situação dela.”
A velha olhou para todos os lados antes que pudesse dizer alguma coisa. Olhou para Eve e disse baixinho enquanto pegava uma xícara e à enchia de chá.
“Desconfio que Lauren esteja usando drogas. Essas malditas drogas. Você pode ajudá-la? Não quero perder minha única neta para essas coisas inúteis e sem sentido.”
Eve sensibilizou-se.
“Como é o nome da Senhora?”
“Augustine. Augustine Smith.” Respondeu entregando a xícara para Eve.
“Sra. Augustine, creio que posso ajudá-la. Mas para isso Laurence precisa querer ser ajudada.”
Ela pensou e sorriu para Eve.
“Acho que ela já deve ter saído do banho, vou avisar que está esperando. Você pode esperar ali na sala, é ao lado da escada.”
“Tudo bem eu espero.”
Evelyn sentiu-se estranha. Ainda estava com a sensação de que algo iria acontecer. Talvez sentia-se assim pelo nervoso, pela ansiedade de que Laurence pudesse ajuda-la. Ignorou mais uma vez. Pensou em Frank e em como ele poderia estar nesse exato momento. Se dirigiu para a sala, sentou-se no velho sofá e olhou para a janela.
Pensou na noite que tiveram, as risadas que deram durante o jantar e os beijos quentes que trocaram durante o sexo. Ainda poderia sentir o calor de suas mãos por suas pernas. E os arrepios que sua voz lhe causavam em seu ouvido. Não poderia viver sem tê-lo por perto. Não poderia deixar que fosse preso. Seu lugar era ao seu lado, para sempre.
“Olá.” Disse Laurence entrando na sala.
Eve levantou-se.
“Srta. Smith?”
Laurence foi ao seu encontro e apertou sua mão.
“Então é do centro para jovens?”
“Exato. Vim para saber como está.”
“Bem. Relativamente bem.”
“Algo para me contar?”
“De errado?”
“Qualquer coisa.”
“Fiz dezoito anos. Terminei o colegial e não me meto mais em confusão.”
Eve sorriu ironicamente.
“Certo. Vim por mais um motivo.”
“Qual?”
“Sabe que a audiência de Frank Murray já foi marcada?”
“Sim eu sei.”
“Você foi intimada, não?”
“Sim.”
“E vai depor?”
“Tenho escolha?”
“Olha Laurence, vou direto ao ponto. Eu sei que você mentiu. Sei que está encrencada e que talvez esteja sendo ameaçada de morte caso queira contar toda a verdade.”
“Sabe?”
“Sim, eu sei.”
“Então se sabe de tudo isso por que veio? Está aqui para encher minha cabeça de ladainhas sobre contar a verdade?”
“Não.”
“Não?”
“Vim porque existem pessoas que dependem da sua escolha. Se você depor contra, talvez Frank passará anos preso. Se você fazer a escolha certa e contar a verdade, pode salvá-lo.”
Laurence riu.
“E a minha vida? Quem pode salvar?”
“Tenho muitos contatos. Posso garantir que ficará salva. Você e sua avó.”
“O que sabe sobre mim? Sobre o que eu passo desde que aquela maldita Ana Chapman me ofereceu dinheiro em troca de uma mentira? Quem é que se preocupa comigo?” Ela levantou um pouco a voz.
“Eu sei o que deve estar passando, já disse. Mas você precisa me ajudar. Vou chamar uma pessoa para conversar com você.”
“Outra?”
“Por favor Laurence. Ele depende de você. Posso garantir que ficará segura segura. Mas pense a respeito. Como pode viver com o peso nas costas de ter colocado alguém na cadeia sendo inocente?”
Laurence suspirou.
“Minha avó. Eu não posso…” Ela foi interrompida.
A senhora Smith estava escutando toda a conversa e resolveu intervir.
“Você não só pode como deve contar toda a verdade Lauren! Eu juro por Deus que não terei misericórdia e nesta casa você não entrará mais.”
Laurence olhou para Evelyn como se fosse matá-la com os próprios olhos. A raiva que estava tomando conta de seu ser era maior do que qualquer outra coisa naquele momento.

Enquanto isso, Frank estava em uma lanchonete, tomando uma xícara de café e imaginando o que estaria acontecendo com Evelyn. Será que conseguira? Talvez fosse por isso que estava demorando tanto para ligar.
Frank se deu conta de que se não fosse por ela, nada disso seria fácil. Não que estava sendo fácil até agora, mas Eve tornou muitas coisas simples. Coisas que ele não conseguira fazer antes, como descobrir esse endereço, ela fez em menos de um mês.
Pensou também em como seu advogado pareceu surpreso demais quando comunicou a ele o que havia encontrado. Claro, poderia ser porque simplesmente passaram mais de meses tentando somente confirmar este endereço.
Mas algo, para Frank, estava errado. Dr. Phill não era um desses advogados que frequentemente se sensibilizam com o seu cliente. Simplesmente fazia o que tinha de ser feito e exigia seu pagamento. Era competente até. Mas porque ele ficou tão surpreso com o fato de Evelyn ter encontrado o endereço e o telefone de Laurence? Esta era a pergunta que martelava a cabeça de Frank.
Algo estava errado e, de repente, ele ficou em estado de alerta. Se alguém fosse tão criativo à ponto, poderia enxergar uma sirene sobre a cabeça dele. Seu estado tenso era visível para qualquer um.
Imagens de Eve correndo perigo passaram por sua cabeça. E se alguém do passado, além de Laurence, estivesse naquela casa? E se a própria Ana Chapman estivesse lá? Deus! Um arrepio lhe percorreu a espinha.

Laurence chorava compulsivamente.
“Eu não queria ter feito isso. Eu era viciada, precisava de dinheiro para comprar drogas e como meus pais não me sustentavam mais, achei a proposta dela interessante. Com o dinheiro eu não precisaria me preocupar em viver nas custas deles. Achei que seria independente.” Disse em meio aos soluços.
Ela e sua avó estavam sentadas em um dos sofás velhos da sala. Eve estava de pé, andando de um lado para outro. Apesar de acreditar em Frank, sentiu-se aliviada por saber enfim que ele não tivera culpa alguma. Fora vítima de Chapman, mais uma delas.
“Ela me ameaça desde então. Manda sempre um advogado aqui em casa para que ele encha a minha cabeça de coisas. Diz que sei o que tenho que fazer para que tudo fique bem comigo e com a minha avó. Ana não tem compaixão alguma com ninguém. Para ela não há pessoa mais esperta. Eu não tinha escolha, vivia fugindo das pessoas e com medo de que voltasse para casa e não pudesse mais conversar com a minha avó. Não fiz por mal, eu era muito jovem. Tinha quinze anos e nenhum pingo de vergonha. Só Deus sabe o quanto me arrependo de ter feito algo tão cruel com uma pessoa.”
“Você disse advogado?”
“Sim. Dr. Phill.”
“Phill?”
“Sim, algum problema?”
“Eu não acredito!” Evelyn ficou chocada. “Aquele desgraçado sabia de tudo o tempo todo!”
“Como assim?”
“Está tudo bem querida, deixe isso para depois. A única coisa que preciso saber é se você vai contar toda a verdade.” Perguntou Evelyn.
“Sim, eu vou. Já está na hora de acabar com essa grande mentira.”
“Eu agradeço. Não está salvando a vida de Frank apenas, mas a minha também.”
“Mas quero a garantia de que eu e minha avó ficaremos bem.”
“Fique tranqüila. Ainda hoje resolveremos esta questão. Nem que eu tenha que levar vocês duas para o meu apartamento,” ela olhou diretamente para Laurence, “você pode vir comigo um instante?”
“Posso.”
“Bem, façamos o seguinte. Façam suas malas, irei levá-las ao meu antigo apartamento. Lá vocês poderão ficar em segurança. Ninguém irá desconfiar de nada.”
“Certo.” Laurence.
“Preciso que liguem e peçam um táxi. Vou ligar para Frank vir até aqui, posso?”
“Claro!”
Eve estava explodindo de felicidade por dentro, apesar de não demonstrar agora. Ligou para Frank e pediu para que viesse até a casa. Apenas alertou de que tinha boas notícias.
Ele não demorou muito para chegar. Mal tinha desligado e telefone e já estava batendo na porta.
Evelyn foi quem abriu.
“Meu amor, conseguimos!” Disse ela com um enorme sorriso estampado no rosto.
“Ela vai contar toda a verdade?” Indagou surpreso.
“Sim. Mas como me pediu a garantia de que eu à deixe em segurança, vou levá-la para o meu antigo apartamento. Lá ninguém desconfiará de nada. Levarei ela e a avó dela.”
“Tudo bem. E onde estão as duas nesse momento?”
“Foram arrumar as coisas delas.”
“Chamaram um táxi?”
“Sim, já providenciamos.”
“Ah meu amor!” Ele à abraçou. “Não sabe o quanto estou feliz agora.”
“Eu sei, também estou.” Ela se desvencilhou do abraço. “Ainda temos que resolver uma coisa.”
“O quê?”
“Dr. Phill, ele sabia o tempo todo de Laurence.”
“Como sabe disso?”
“Ela me contou que Chapman mandava um advogado para que ele ficasse pressionando ela a nunca contar a verdade sobre você. Esse advogado é Phill. O seu advogado. E é por isso que você ficou tanto tempo na mesma sem poder descobrir nada. Nesse exato momento ele deve estar contando para Chapman que estamos aqui. Ela deve aparecer em qualquer momento.”
Frank estava perplexo. Não conseguia organizar os pensamentos.
“Céus Eve, você corre perigo!”
“Não se preocupe comigo. Precisamos acima de tudo colocar aquelas suas mulheres em segurança.”
“Eve, deixe que faço isso. Se algo acontecer com você jamais me perdoarei.”
“Frank, meu bem. Relaxe, ainda temos tempo.”
“Eve me escute, por favor!”
“Frank! Chega. Vamos levá-las para o meu apartamento e depois pensamos no que fazer. Nada vai acontecer comigo. Não se preocupe.”
Ele se acalmou.
“Tudo bem.”
Uma buzina pode ser ouvida lá fora.
“Acho que o táxi chegou.” Ela disse indo para a porta.
Laurence e a Sra. Smith desceram as escadas com três malas. Frank nem olhou para o rosto de Laurence, apenas apanhou duas bolsas e levou-as correndo para o táxi.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Capítulo X – Jantar.

Eram quase oito horas da noite quando Evelyn e Frank estavam prontos para saírem para a tão esperada noite que teriam juntos, sem nenhuma outra preocupação. Eve estava linda como nunca. Usava um vestido pérola que lhe caía perfeitamente bem. Seus cabelos longos estavam soltos sobre seu busto. Sua pele que já era branca, ficava ainda mais reluzente.
Frank, quando a viu sair do quarto vestida daquele jeito, esqueceu-se de onde estava e quem era. Eve era linda aos seus olhos, mas nunca a vira assim, como estava naquele exato momento. Ele também era um homem terrivelmente charmoso. Seus olhos castanhos amêndoa atraíam a atenção de qualquer mulher. E seu sorriso! Ah, o seu sorriso. Digno dos Deuses.
Os dois estavam completamente apaixonados, haviam se encontrado e cessado a solidão que preenchera parte de seus corações. Eve era dedicada o tempo todo, Frank retribuía. Eram tão completos que se tornaram apenas um ser. Para ele, já era hora de avançar um passo para firmar tudo aquilo que estavam vivendo. Eve nem sonhava que isso iria acontecer, nessa noite.
“Você não poderia estar mais linda, meu amor.” Ele disse depois de observa-la por tanto tempo. Ela deu graças por quebrar o silêncio que consumia o local, estava ficando constrangida pelo olhar de Frank.
“Obrigada, querido.”
“Vamos?”
“Claro.”
Eles sorriram um para o outro.

Já no restaurante, Eve estava observando cada detalhe de onde estavam.
“Esse lugar deve ser caríssimo.” Ela pensou.
“Amor?” Ele a chamou.
Eve sorriu direcionando o olhar para Frank.
“Aconteceu alguma coisa?”
“Não. Por quê?”
“Está quieta.”
“É que eu não estou acostumada a freqüentar lugares assim.”
“Relaxe, meu anjo. Quis trazer você aqui essa noite para fazer um pedido.”
“Pe-pedido?”
Ele riu ao vê-la gaguejar. De certo já sabia do que se tratava.
“Sim, um pedido.”
“Que pedido? Amor, está calor aqui, não? Preciso de água.”
“Vou chamar um garçom. Mas querida, eu pedi um vinho especial para nós dois. Alguém irá trazê-lo.”
“Tudo bem eu espero.”
Ele à olhou desconfiado.
“Está estranha. Ansiosa.”
“Não é nada, querido.” Respondeu sorrindo.
“Bom, podemos retomar a nossa conversa?”
“Sim, claro!”
“Certo… bem eu, já venho me preparando há alguns dias para te fazer esse pedido. Quanto mais eu me preparei mais eu vi que não chegava a lugar nenhum então, resolvi confiar no meu improviso.”
Ela aguardou ele continuar.
“Eu sei que posso não ser o que você sempre sonhou… posso ter te envolvido em um problema tão grande, ou ser todo problemático em relação a minha vida. Mas o fato é que minha vida por mais confusa que seja, só fez o exato sentido quando eu te conheci. Quis ser uma pessoa melhor e definitivamente mais completa, ao seu lado. Você é linda Eve, tem todas as características que eu sempre sonhei em uma mulher, quero que seja minha eterna companheira, a mãe dos meus filhos… mas para que isso aconteça, preciso que me responda uma simples pergunta… Evelyn você aceita ser minha esposa? Deseja se casar comigo?”
Eve ficou 5 segundos sem responder. O coração de Frank foi à boca e por pouco não escapou.
“Nossa!” Ela exclamou. “Eu jamais pensei que fosse me pedir em casamento… quer dizer, que fosse me pedir em casamento hoje.”
“Bem, e… você? O que me diz?”
Ela sorriu.
“Desculpe, é que nunca me pediram em casamento antes, estou tentando absorver o máximo que consigo de alegria desse momento.”
Frank riu.
“Então a resposta é…”
“Sim, eu aceito me casar com você.”
Ele sorriu.
“Agora descobri o por quê de ainda não terem a pedido em casamento.”
“Por quê?”
“Conhecendo você, dava para julgar que iria reagir desse jeito depois do pedido. Amor, você quase me matou de susto.”
Eles riram juntos.
“É que, é tão constrangedor.”
“Como assim?”
“Não! Me expressei errado. Eu quis dizer que não esperava por isso e, por mais que já temos alguns meses de relacionamento eu fiquei nervosa com o pedido.”
“Sente alguma dúvida do que eu sinto por você?”
“Não. Sei que me ama de verdade.”
“E tem alguma dúvida sobre o que sente por mim?”
“Também não.”
Ele fez uma pausa e com um sinal com a mão indicou-a para esperar. Havia mais uma coisa. Retirou de dentro do bolso do paletó uma caixinha preta de veludo.
Era o anel.
“Posso colocar?”
“Claro!” Respondeu com um sorriso que atravessava seu rosto.
Frank pegou delicadamente sua mão e, colocou o anel em seu dedo. Eve sentiu-se, de uma maneira estranha, como se fosse dele agora. Como se realmente ele fosse responsável por ela, agora. Ela gostou disso. Não foi uma sensação de possessão masculina, mas um conforto de que agora sentia mais certeza de que ele realmente a queria para sempre. Ela pertencia a ele, assim como ele pertencia à ela.
“Este anel, pertenceu a minha avó, passou para minha mãe e agora é seu.”
“É lindo meu bem!”
“Desculpe-me.” De repente uma mancha de tristeza tomou conta de seu olhar. O fato de mencionar sua avó e sua mãe, o fez sentir-se sem ninguém da família para poder compartilhar a felicidade de ter pedido em casamento a mulher da sua vida.
Sua adorada avó iria sentir-se orgulhosa de seu único neto. Sua mãe, já estaria providenciando a festa do casamento. As duas com toda certeza adorariam Evelyn. Ela era exatamente tudo o que desejavam para Frank.
Mas devido ao que aconteceu, não tinha mais contato com sua família. A única lembrança agora era o anel que havia colocado na mão de Eve. Pensou em comprar um novo, para não precisar passar por isso. Mas lembrou-se de como o casamento de seus avós e de seus pais havia dado certo. Nunca fora de acreditar nessas coisas, mas queria acima de tudo, uma simples certeza de que daria certo com ela, agora. Eve realmente fora a única que decidiu presentear-lhe com o anel.
“Desculpá-lo? Por?” Indagou Eve, retirando-lhe do momento de devaneio.
“Por não ter uma família para compartilhar esse momento.”
“Você tem, sou eu. E a minha família vai adorar recebê-lo, como um filho.”
“Eu sei querida. Mas gostaria tanto que minha mãe à conhecesse. Que você conversasse com ela e pudesse vê-la como sua própria mãe.”
“Meu bem, já conseguimos muita coisa. Agora que temos a esperança de provar sua inocência, podemos entrar em contato com eles e contar tudo o que aconteceu.”
“Não sei se…”
“Sabe sim. Família é uma só e eles nunca abandonam. E eu garanto que sua mãe chora por ter se afastado. Se eles se recusaram em lhe visitar na cadeia, perdoe-os. Mas não os julgue sem antes saber o que aconteceu.”
Ele suspirou.
“Vamos pedir nossa comida. Estou morrendo de fome.” Ela por fim disse, mudando de assunto. Não queria que em pleno aquele dia, o mais feliz de todos, se resumisse em tristezas.
“Claro!”

Era quase uma hora da manhã quando voltaram para casa. Eve estava exausta. Passara o dia todo no salão fazendo tudo o que tinha direito, respondeu a um pedido de casamento, jantou fora, e ainda fora assistir um filme com Frank.
O sono era quase que dominante.
“A futura Sra. Murray está cansada demais ou é apenas impressão minha?” Ele indagou em tom de brincadeira.
“Estou exausta.” Ela respondeu deitando-se no sofá fazendo com que o vestido que usava subisse um pouco, deixando suas coxas mais a mostra. Aquilo mexeu com os sentidos de Frank.
“Exausta para mim, também?” Ele se aproximou do sofá, sentou-se perto das penas dela e retirou-lhe os sapatos.
“Querido.”
“Evelyn Young deseja ir para o quarto?”
“Sei bem o que você deseja.”
Ele riu, à pegou no colo e levou-a para o quarto.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Capítulo IX – Procurando pelo improvável.

Quando estava saindo de casa, Frak lhe entregou o papel com o nome da jovem e o suposto endereço.
“Laurence – Av. Sir Ranulf Brand, 144.” E isso era tudo o que possuía sobre uma pessoa.
Evelyn finalmente chegou à sua sala. Mal poderia esperar por Jenssen, seu eterno e fiel escudeiro para mais essa missão. Jenssen foi o único que, desde o princípio, apoiava Eve em seus desafios para ajudar os jovens que freqüentavam a casa.
Todos sempre insistiam que Eve perdia tempo com os ‘marginais’. Que eles só estavam lá por obrigação e não porque esperavam que alguém iria entender as suas dificuldades e, além de tudo, motivar uma mudança de vida.
Evelyn nunca ligou para o que os outros diziam. Para ele, todos tiveram uma vida boa para entender qual seria o estopim para que um jovem cometesse algo contra um bom princípio.
“Jenssen, preciso de sua ajuda.”
Ele sorriu.
“Ah sim, nossa! Bom dia para você também Eve, como vai a sua vida?”
Eve retribuiu ao sorriso.
“Bobo! Sabe que sempre estou bem.”
“Sim, por isso seu sobrenome é felicidade.”
“Ahá! Essa foi boa!”
“Me diga princesa. O que traz sua honrada beleza em meu humilde castelo?”
“Jenssen, preciso que encontre em seus arquivos uma jovem.”
“Qual delas?”
“Aí está a questão. Não tenho muito sobre ela.”
“Isso não é problema. Tendo apenas o endereço consigo muita coisa pra você. Mas diga-me para que precisa?”
“Prometo que conto assim que conseguir tudo o que preciso. Não temos muito tempo.”
“Vai me colocar num problema?”
“Não.”
“Problema inclui perder o meu emprego.”
“Não Jenssen, fique tranqüilo.”
Ele suspirou.
“O que tem aí?”
Ela retirou de dentro da bolsa o papel que Frank havia escrito.
“Laurence, é?” ele indagou.
“Isso.”
Jenssen pareceu pensar sobre o nome, como se algo estivesse passando por sua cabeça.
“Jenssen?” Eve o chamou retirando-o do frenesi.
“Esse endereço…”
“Conhece? Sabe de alguma coisa?”
“Olha não é certeza, mas essa garota já deve ter passado por um de nossos psicólogos por mais de uma vez. Eu me lembraria desse nome.”
“Sabe em qual situação ela se envolveu?”
Ele pensou mais uma vez.
“Eve, essa garota não é normal. Até onde sei, ela se envolveu com tráfico de drogas e foi estuprada por um homem. Mas isso é o que ela afirma.”
“É exatamente isso o que estou procurando. Pode checar se esse endereço confere com o dela?”
“Claro, isso é fácil.”
“Obrigada Jenssen.”
“Me deve essa, Eve. Te ligo assim que conseguir o que precisa. E quando voltar, quero saber de toda essa sua curiosidade fio a fio.”
“Certo, contarei a você, amigo.”
Eve correu para sua sala, pegou o telefone e ligou para Frank, mal podia esperar para ter em mãos aquilo que precisava para salva-lo. Um homem tão bom quanto ele não merecia de maneira alguma um destino tão injusto.
“Alô?” Frank.
“Amor, sou eu. Acho que consegui o que procuramos.”
Eve pode sentir o espasmo de felicidade que ele teve ao telefone.
“Mas tão rápido assim querida?”
“Bom, Jenssen se lembra do nome dela. Disse que ela andou freqüentando este lugar por mais de uma vez.”
“Mas isso é ótimo, meu amor! Assim já sabemos de que não se trata de um fantasma. Céus, se não fosse por você.”
“Vamos por partes querido, ainda falta saber se o endereço confere com o que você me deu.”
“Sejamos positivos.”
“Volto a ligar para você assim que conseguir o endereço.”
“Tudo bem querida, aguardo.”
O tempo passou, mais devagar que o costume, tanto para Eve quanto para Frank. Esperar a ligação de Jenssen para avisar de que havia encontrado a ficha da garota estava lhe matando aos poucos. Aquela, definitivamente era a única esperança de ambos.
O tempo que passou em espera à fez pensar em o que aconteceria depois que encontrasse Laurence. Se Jenssen disse que a tal não era ‘flor que se cheire’, do que adiantaria tentar convence-la a contar a verdade no julgamento de Frank? Talvez ela nem se preocupasse em atende-la.
Esse, sem dúvida alguma, seria mais uma dificuldade que encontraria a frente. Mas por Frank não custava tentar. Ele dependia dessa tentativa.
O seu telefone tocou, apreensiva, delicadamente o retirou do gancho.
“Dra. Evelyn.”
“Eve, sou eu, Jenssen.”
“E aí? Conseguiu aquilo pra mim?”
“Foi fácil, da próxima vez que quiser me desafiar, traga algo mais difícil.”
Ela riu.
“Bobo. E o endereço? Confere?”
“Confere… e ainda consegui o telefone dela.”
“Mas e a possibilidade do endereço ou telefone serem velhos?”
“Zero. É obrigação dos pacientes que mantenham os endereços e telefones atualizados.”
“Ótimo. Isso é muito bom.”
“Ainda me deve explicações.”
“Não por telefone.”
Ele riu.
“Quer jantar comigo essa noite? Aí você aproveita e me conta o que está acontecendo.”
“Jenssen!”
“Desculpe, não resisti. Mas sem pressa meu anjo. Quando der, passe aqui pra gente tomar um café e conversarmos.”
“Tudo bem, eu prometo que assim que puder tomaremos um café juntos. Muito obrigada, amigo.”
“Sempre que precisar, Eve. Mas agora anote aí: 554632014. Laurence Richmore Smith.”
“Certo, anotado.”
Evelyn resolveu pegar suas coisas e ir para casa, decidira que não poderia dar essa notícia a Frank por telefone. Depois ela se resolveria com seu superior.
Chegou lá em questão de 20 minutos. Frank estava no sofá.
“Tenho ótimas notícias!” Ela disse indo ao encontro dele.
“E quais são?”
“Bem, além de conseguir confirmar o nome e o endereço… tenho o telefone dela.”
Ele se levantou do sofá rapidamente.
“Está brincando?”
“Não.Acho melhor até trocar de advogado, eu sou melhor que ele.”
Ele riu.
“Não conheço ninguém melhor do que você pra me defender.”
“Mas agora precisamos avançar um nível. Temos que convence-la a conversar com a gente.”
“Eve…”
“O que foi?”
“Isso é fácil. Basta ligar e dizer que é psicóloga do centro de menores.”
“Sim, mas o que quero dizer é convence-la a contar toda a verdade.”
“Nós daremos um jeito. Além do mais, use seus dotes de psicóloga.”
Ela abriu a boca para falar mas Frank à interrompeu.
“Pensamos nisso depois. Agora, vamos almoçar, juntos. Logo depois do almoço irei comunicar meu advogado e contar a ele o que conseguimos. Não se esqueça que hoje iremos jantar.”
“Meu trabalho já fiz. Hoje não preciso voltar ao centro. E, já que vamos jantar… numa ocasião tão especial, irei cortar meus cabelos, fazer as unhas e tudo mais que tenho direito.”
Ele sorriu.
“Tudo bem querida, te deixo em um salão assim que sairmos.”
“Certo.”
Eles se olharam por um minuto.
“Eu te amo, Evelyn. Você sempre será meu anjo.”

terça-feira, 13 de julho de 2010

Capítulo VIII - Ideia.

A noite se passou, no dia seguinte logo de manhã, Eve já havia acordado. Ela mal conseguiu dormir, ficara pensando em como poderia ajudar Frank. Eram quase oito horas da manhã quando, finalmente, teve a tão esperada idéia.
Fazia cerca de um ano que trabalhava no centro para jovens infratores. A resposta era simples, buscaria em todos os arquivos, o nome da, até então menor de idade, que acusou Frank. Se estivesse lá, poderia conseguir o endereço da mesma e ir atrás dela para tentar convence-la em contar a verdade no julgamento.
Evelyn sentiu-se determinada e iria até o fim desta busca. Acordou Frank.
“Meu bem, acorde! Acho que posso lhe ajudar.” Ela dizia repetidas vezes.
Ele abriu os olhos, acostumou-se com a luz do sol que adentrava o quarto e encarou Evelyn.
“Aconteceu alguma coisa, meu amor?”
“Não disse que a garota que lhe acusou é sua única salvação? Pois bem, eu trabalho no centro para menores, acho que posso conseguir onde ela mora.”
Ele fiou quieto e pensou por alguns segundos.
“Acha mesmo que pode conseguir isso?”
“Bem, você precisa primeiro me contar o que sabe sobre essa garota. Exatamente tudo.”
“O que não é muito. A única coisa que tenho é o primeiro nome e um endereço que há meses não consigo descobrir se é verdadeiro.”
“Pois bem. Anote o nome e o suposto endereço em uma folha qualquer. Só vou me colocar uma roupa e ir direto para o meu escritório. Lá eu peço para Jesse buscar nos arquivos tudo relacionado ao que você me der. Tudo bem?”
“Claro! Amor, eu posso ir junto com você?”
Ela pensou.
“Melhor ficar aqui e aguardar minha volta. Se você for comigo posso levantar suspeitas de algo. Os arquivos do centro estão sob decreto de sigilo. Ninguém, exatamente ninguém sem autorização pode buscar qualquer informação dentro dos arquivos.”
“Eu entendo. Mas você volta no almoço, certo?”
“Sim querido, mas não quer dizer que eu já traga o que você quer. Isso pode levar algumas horas.”
“Os arquivos estão todos no computador?”
“Os mais recentes estão todos, agora em relação aos mais antigos, alguns ainda estão sendo passados para o sistema, por isso Jesse pode demorar para achar algo.”
Evelyn se levantou. Abriu o guarda-roupas e retirou algumas peças para vestir. Estava ansiosa, com esperança de que fosse conseguir algo que pudesse salvar Frank.
Quando foi ao banheiro para escovar seus cabelos, ele à abraçou pela cintura e à beijou suavemente em seu ombro.
“Não sei o que seria de mim sem você, meu anjo. Espero realmente que consiga achar algo que possa me ajudar, mas, se por ventura não conseguir, agradecerei eternamente pelo seu esforço.”
Ela sorriu.
“Farei qualquer coisa por você, Frank.”
Eles sorriram se encarando no espelho.
“Vamos jantar fora hoje?” Ele perguntou.
“Jantar fora?”
“Sim. Comer algo diferente e ver pessoas diferentes.”
“Está dizendo que minha comida não é das melhores?”
Frank riu.
“Não, de maneira alguma. Mas quero conversar com você algo muito importante.”
“Em relação à sua audiência?”
“Não. Em relação a nós dois.”
“Nós dois?”
“Isso e sem mais perguntas. Hoje pela noite iremos jantar, já passamos por momentos de muita turbulência. Merecemos um momento de descanso.”
“Você leu meus pensamentos.”
“Estou acostumado a fazer isso.”
Evelyn riu exultante.
“Convencido.”
Ela se virou para olhar o rosto de Frank.
Se beijaram profundamente.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Capítulo VII – Passado.

Evelyn e Frank estavam abraçados no sofá, vendo um filme antigo que passava em um canal da tevê à cabo. O silêncio entre os dois reinava como paz para ambos, mas dentro da mente de cada um, dúvidas sobre o futuro estouravam em suas cabeças sem nenhuma resposta.
Era difícil poder ao menos imaginar como as coisas seriam daqui pra frente. Enquanto Eve tentava procurar uma solução, Frank apenas sentia-se feliz em meio a tanta preocupação. Ela o havia aceitado, mesmo com seu passado turbulento. Ela realmente era tudo aquilo que ele esperava ser.
“A sua audiência será daqui a um mês. Como se sente?” Ela por fim resolveu perguntar.
“Preocupado.”
“Amor, e todo esse tempo em liberdade, o que você fez? Eu digo, em relação ao trabalho.”
“Minha sorte é que sempre guardei dinheiro. Ainda tenho o bastante para viver por uns cinco anos sem fazer nada.”
“Entendo. E todas essas suas saídas durante a tarde? Para onde ia sendo que me dizia que ia em busca de emprego?”
Ele respirou. Sim havia mentido durante todos esses dias. Mas tinha um motivo de força maior.
“Conversar com meu advogado. Estamos tentando buscar a garota que me acusou de estupro. Ela é minha única salvação.”
“Certo. Você me disse também que foi acusado por porte de drogas, mas poderia ter pedido a Justiça que lhe concedesse um exame? Assim poderiam detectar que você não é usuário.”
Mais uma vez ele respirou fundo.
“Eve… querida, como lhe disse, eu não era o homem que você conhece hoje. Quando estava com Chapman eu usava drogas.”
Por um ou dois minutos Evelyn sentiu-se estranha. Era como se estivesse conversando com um de seus pacientes, os menores infratores e usuários de drogas.
“Que tipo delas?” Indagou-o.
“Todas. Mas não com freqüência. Às vezes eram umas, outras vezes eram de outro tipo. Mesmo se eu pedisse o exame, poderiam não ter sido detectadas em meu sangue, mas eu certamente seria acusado de tráfico.”
“Você está certo.”
Mais alguns minutos de silêncio.
“Sente-se arrependida por ter se envolvido comigo?”
“Não, de maneira alguma. Sei do que sinto por você e acredito em você acima de tudo.”
Ele sorriu e à beijou.
“Obrigado por fazer parte da minha vida, Eve.”
“Ambos somos agradecidos por termos um ao outro. Nós vamos encontrar uma saída.”
“Se Deus quiser.”

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Capítulo VI - Ana Chapman.

Dois meses haviam se passado e ela havia se mudado para o apartamento de Frank. Estavam tão unidos como ninguém nunca jurara que estariam. Mas como sempre dizem: a vida não é sempre um mar de rosas.
Em uma manhã de sexta-feira, a campainha de casa tocou. Evelyn estava sozinha e correu para atender a porta. Ela estava estudando um caso de um garoto novo na escola e demorou um pouco para se dar conta de que havia alguém na porta.
"Bom dia Sra.", disse um homem.
"Bom dia, em que posso ajudar?"
"O Sr. Brand está em casa?"
"Não, Frank teve um compromisso e está na rua."
"Bem…", ele pegou um papel de sua pasta e entregou para Evelyn, "poderia por favor entregar esta carta, assim que ele voltar?"
"Claro. Do que se trata?"
"É uma intimação para ele comparecer no tribunal… a audiência sobre o caso em que ele está envolvido já foi marcada. Será julgado definitivamente, enfim."
Evelyn sorriu sem compreender o que havia escutado.
"Audiência?"
"Sim, será o julgamento dele."
"Espere um pouco… julgamento de quê?"
"O réu Frank Brand está sendo acusado de estupro e porte ilegal de drogas. Ficou os últimos três anos aguardando julgamento preso e conseguiu responder em liberdade. Agora, será dada a sentença final. Culpado ou inocente."
Ela não soube o que falar, estava em estado de choque.
"Bem Sra. se me permite eu preciso ir agora. Tenha um bom dia."
Ele foi embora e ela entrou na casa trancando a porta logo atrás de si. Parecia não acreditar no que havia ouvido momentos atrás.
Isso só poderia ser um engano. Como ele, Frank, o homem mais doce que já conhecera na vida estava sendo acusado de estupro e porte ilegal de drogas? Por que ele não à contou sobre o fato?
Por fim, decidiu arrumar suas coisas e esperar Frank voltar, caso ele desse uma resposta firme sobre o que estava acontecendo, ela julgaria se ficaria ou não. Caso contrário, iria embora sem escutar nenhum tipo de explicação sobre as acusações.
Só conseguiu se concentrar na situação, quando ouviu os passos de Frank no corredor, como de costume, ele bateu na porta.
“Meu bem?” Ele à chamou.
O coração de Evelyn batia forte. Escutar a voz doce de Frank era como se nada mais existisse. Como poderia um homem como ele ser acusado de algo tão grave? Jamis imaginou que as mãos que lhe causavam calafrios poderiam ter feito mal a qualquer pessoa.
Colocando seus devaneios em seus devidos lugares, ela abriu a porta e o olhou apreensiva.
Ele não esperou que ela dissesse alguma coisa, apenas entrou, fechou a porta e à abraçou pela cintura.
“Você está cada vez mais linda, sabia disso?” Ele disse sorrindo e depois beijou-a.
Evelyn correspondeu ao beijo em primeiro momento, mas não permitiu que a magia de Frank à deixasse mais confusa ainda. Ela parou o beijo e o encarou séria.
“Algo aconteceu, querida?”
Ela não precisou dizer mais nada, apenas apontou em direção a intimação que estava sob a mesa de centro da sala.
Ele se direcionou para a mesa e apanhou o papel.
“Então… você já sabe de tudo?”
“Se eu já sei?”
Ele tentou se aproximar mas, Evelyn deu um passo para trás.
“Eve, querida… eu sei que eu errei em não ter contado antes mas, você precisa me escutar.”
“Você mentiu pra mim!”
“Não, não menti. Em momento algum eu menti pra você!”
“É com aspecto de devoção e piedade que adoçamos o próprio demônio¹.”
“Eve…”
“Você passou três anos em uma prisão e nem sequer se deu ao trabalho de me contar?”
“Eu tinha medo de sua rejeição.”
“REJEIÇÃO, Frank? Eu lido com esse tipo de situação praticamente todos os dias no meu trabalho… acha mesmo que eu não estou preparada para lidar com isso também?”
“Eu não quis em momento algum dizer isso a você.”
“Mas pareceu ser! Eu sempre digo que não devemos julgar uma pessoa por um erro ou…”
“Eu não sou culpado por essas acusações! Tudo pode levar a crer que sim, mas eu não sou!”
“Não?”
“Não. Bom, agora que você já sabe, eu lhe devo contar toda a história.”
Ela riu ironicamente.
“Já não era sem tempo. Finalmente um pingo de bom senso em seu caráter.”
“Me perdoe.”
Ela sentou-se no sofá esperando que Frank contasse o que havia acontecido. Ele, por sua vez, ficou em pé, andando de um lado para o outro e colocando seus pensamentos todos em seus devidos lugares para então, começar a contar o que acontecera em sua vida.
“Quando eu era fisioterapeuta, costumava sair muito com meus amigos de profissão. Foi em uma dessas saídas que eu conheci Ana Chapman. Ruiva, olhos azuis, o tipo de mulher que consegue enfeitiçar quem pretender. Eu era diferente do que me conhece hoje, não sabia até então o que era ficar preso por uma mulher, parecia que nada mais iria fazer sentido se eu não à tivesse por pelo menos uma noite. Não me importava se ela pertencia a outro alguém…” ele respirou fundo, como se tivesse prendendo dentro de si o enorme nojo que sentia por aquela mulher, hoje. Bem, nós conversamos por horas e por fim, decidimos ir para a minha casa… o resto eu não preciso te contar. O fato é que Ana era casada, isso eu descobri dias depois, mas se não fosse somente isso, descobri que ela era casada com um traficante de drogas e ela era uma assassina de aluguel. História de filme? Talvez. Mas eu pensei que amasse tanto que poderia faze-la ser diferente, ter uma vida… normal. Infelizmente não foi isso o que aconteceu, ela só me dizia promessas sem pé nem cabeça e estava ficando obcecada por mim, era tanto que fiquei preocupado, olhava para todos os lados da rua antes de sair de casa. Não demorou muito para que o marido dela descobrisse tudo. Eu decidi acabar com aquilo, estava cansado e percebi que havia me transformado em um monstro, sentia nojo de meu próprio ser. Ela se sentiu furiosa, disse que ia acabar com a minha vida. Pensei que ia me matar, mas ela não deixou as coisas tão fáceis, fez pior. Conseguiu fazer com que provas me acusassem de estupro em uma menor de idade. Uma garota que eu nunca vi na minha vida. Depois, fui acusado de porte de drogas…” Ele ofegou. “É fácil de imaginar como ela tenha feito isso. Escondeu-as dentro do banco de passageiro do meu antigo carro. Ninguém acreditou em mim, até porque existiam provas, que eu nunca consegui contrariá-las para mostrar que sou inocente. Fui preso, humilhado, minha família sentiu desgosto pela minha existência, desde então, passei a ter uma vida de solidão. O ódio tomou conta de mim, era o que me alimentava durante os três anos que fiquei na cadeia. O advogado que me defendeu, também tomou conta do meu dinheiro e, com isso, eu consegui pagar os honorários dele. Enfim, ele conseguiu com que eu respondesse o processo em liberdade. E aqui estou.” Frank sentou-se.
Eve nem sabia o que dizer, ela realmente lidava com esse tipo de situação quase todos os dias, mas nunca, definitivamente nunca pensou que passaria por isso. Ela amava Frank, acima de tudo, e de certa forma convenceu-se com a história.
Dentro de si, algo lhe dizia para ajuda-lo. Talvez houvesse algo que pudesse fazer. Por hora decidiu levantar. Caminhou com passos leves até ele, Frank também se levantou, e os dois deram um abraço ávido.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Capítulo V - Amanhecer.

Evelyn acordou com os primeiros raios de sol que batiam em sua janela, tentou espreguiçar-se mas algo colidiu com o seu joelho no começo do ato. Lembrou-se da noite anterior, lembrou-se de cada toque que Frank deu em seu corpo, cada beijo, cada palavra proferida que acabou atingindo-a como um delicioso afago.
Ele não reagiu ao impacto da perna dela com a sua, apenas respirou fundo e pareceu continuar dormindo como um bebê. Sim, a noite foi longa e ambos estavam exaustos.
Evelyn o observava intensamente, olhando cada detalhe de seu rosto, pescoço, peito… tudo. Passou delicadamente os dedos sob uma cicatriz que ele tinha no canto esquerdo da boca, cicatriz pequena, visível apenas para quem à olhasse com atenção, assim como ela estava fazendo naquele mesmo momento.
Frank abriu os olhos, acostumou-se com a luz solar no quarto e depois sorriu, um sorriso que a fez perder o fôlego.
"Bom dia…", ele disse.
"Bom dia."
"Dormiu bem?"
"Sim, e você?"
"Dormi tão bem como não dormia há anos. Você foi incrível", disse acariciando-a na face.
Ele percebeu uma pontada de tristeza nos olhos dela, foi como o apagar de uma luz em um campo cheio de flores.
"O que foi?" ele indagou.
"Nada."
"Vamos, pode falar."
Evelyn suspirou.
"Como ficam as coisas agora? Quer dizer, você se levanta dessa cama, coloca a sua roupa, passa pela porta da sala e nunca mais nos veremos novamente. É isso?"
"Não."
"Não? Como, não?"
"Não, oras. É só pedir para mim ficar, que eu fico. Mas se quiser que eu pegue minhas roupas e vá embora para nunca mais aparecer em sua vida, farei isso também, apesar de que não seja minha vontade."
"Qual a sua vontade, Frank?"
"Ficar aqui com você… para sempre, mais que isso talvez", sorriu.
"Não sei se…"
"Evelyn, entenda. Nós somos donos de nossos narizes, podemos fazer o que bem entendemos. Se as outras pessoas acham errado você ficar com uma pessoa só porque há conheceu em menos de 24 horas, bem… o que isso importa? Não seremos nem os primeiros e nem os últimos. Quer ficar comigo hoje? Tudo bem, eu fico. Quer ficar comigo sempre? Ótimo, farei com todo o meu prazer. Mas se quiser que eu vá embora por aquela porta me diga agora, olhando nos meus olhos. O que você quer Evelyn? Diga-me, o que quer?"
"Você", foi tudo o que ela disse, ou tudo o que deu tempo de responder. Frank tomou-lhe os lábios dando um beijo profundo que mais se parecia com uma promessa de amor eterno.
"Finalmente encontrei você", ele disse.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Capítulo IV - Refletindo.

Passaram a noite inteira conversando e acabaram dormindo juntos mas, desta vez, na cama de Evelyn. Quem os visse daquele modo poderia jurar que os dois se conheciam a anos, que realmente foram feitos um para o outro. Enxergar isso seria fácil para ambos, mas, aceitar isso seria algo totalmente diferente.
Evelyn não era daquelas mulheres que consideramos "normais", apesar de ser psicóloga. Uma porque já tivera tantos outros namorados e nenhum deles soube suprir suas necessidades. Essas necessidades não se resumiam em sexo mas sim em aceitação de todo e qualquer defeito. Manias, tipos de personalidade a cada dia, tiques… sempre houvera algo que a impedisse de ter uma vida conjugal com um homem.
O outro motivo seria por Evelyn ser totalmente e extraordinariamente dedicada ao trabalho na escola para menores infratores. Aquilo trabalho à deixava exausta todos os dias e exercia grande parte de seu tempo no cotidiano. Problemas, problemas e ameaças até. Recebera inúmeras delas muitas vezes por apenas passar um "sabão" em um dos adolescentes que acompanhava na escola. Apesar disso, nunca desistiu desse cargo e sempre seguiu em frente, acreditava que se aquela situação fosse mudar, seria começando por ela mesma.
De uma hora para outra conheceu Frank, o doce Frank. Ele era engraçado, espontâneo, à entendia perfeitamente tanto na comunicação social quanto corporal e nada previsível nas falas e nas ações, como tantos outros foram. Fora que ele era lindo, tinha um corpo incrível e era um mestre no sexo. Definitivamente ele à enfeitiçara em menos tempo que qualquer outra pessoa fosse capaz de fazer.
Para Frank, encontrar Evelyn justamente naquela fase perturbadora de sua vida era algo perigoso. Ele não queria envolvê-la em problemas, mas também não queria apenas se envolver com ela e sumir num passe de mágica. Ela nem de longe se parecia com nenhuma das mulheres que teve no passado. Esteve tanto tempo longe de um corpo feminino que ela realmente pode completá-lo fisicamente e mentalmente.
Evelyn sempre foi o tipo de mulher com quem sonhara um dia. Casar-se, morar em uma casa bonita e confortável, ter filhos talvez, por que não? Ela era a mulher que procurou por toda a sua vida e finalmente encontrou-a. Estava decidido em ser participativo na vida da mesma e faria qualquer coisa para que ela o aceitasse plenamente e completamente.
Queria também esquecer por tudo o que passou na prisão, por três anos. Depois de tanto tempo de sofrimento, conseguiu liberdade condicional e responderia o processo em liberdade.
Há exatamente quatro anos atrás, envolvera-se com uma mulher por quem se apaixonou cegamente. Seu nome era Bridget, uma jovem que na época tinha 20 anos de idade.
Por um ano tiveram um caso e, depois que descobriu que Bridget era integrante de um grupo de assassinos por encomenda, tentou se afastar mas era tarde demais. Por raiva, a garota armou uma cilada para Frank, onde o mesmo saiu culpado por um estupro em uma menor de idade e por ser portador de drogas. Mesmo sem antecedentes criminais e pelas aparentes provas contra sua inocência, fora mandado para a prisão e ficara por lá três anos.
Decidido a guardar para si o que acontecera por medo de rejeição, adotou uma vida secreta, totalmente diferente daquela que levava antigamente.
O que persistia em sua mente naquele momento deitado na cama de Evelyn, com ela em seus braços, era uma cruel e incansável dúvida:
Poderia entregar-se aquele amor e deixá-la a parte de tudo o que sofrera nesses últimos anos? Valeria a pena arriscar-se tanto?
Por hora, fechou os olhos e estreitou-se mais ao corpo dela, voltando ao doce e puro sono.

Capítulo III - Aproximação

  Assim que chegaram no apartamento de Evelyn, não tiveram tempo nem para colocarem as coisas no lugar. Frank agarrou-a pela cintura, puxou-a contra si e ergueu-a. Ela se entregou ávida e enterrou os dedos nos cabelos dele. Depois de um tempo assim, colocou-se na ponta dos pés e segurou-lhe a cabeça com força, obrigando-o a aprofundar o beijo. Ele cambaleou um pouco, parecendo aturdido.
Com o sangue pulsando nas veias, Frank à conduziu ao sofá e à fez deitar-se, sem jamais descolar os lábios de ambos. Dirigiu os beijos para a orelha dela e depois ao pescoço, ofegante, suspirou ao desabotoar os botões da blusa, jogar a mesma longe do sofá, lhe tirar o soutien  e capturou um mamilo. Evelyn gemeu e arqueou o corpo. Ele sugou o suculento bico do seio, apalpou o outro seio, ergueu-o e abocanhou-o.
“Era isso o que queria quando me trouxe pra cá?” indagou ele, rouco, chupando o seio.
Evelyn enterrou as mãos nos cabelos dele e lançou a cabeça para trás, delirando.
“Sim”, sussurrou, “era, sim...”
Ele parou por um instante e se livrou das próprias roupas, ficando nu em alguns minutos. Ela ficou excitada ao ver a masculinidade de Frank totalmente exposta, seguiu o exemplo dele e tirou o resto das roupas também.
     Ele voltou para o sofá colocando-se sobre Evelyn novamente, obrigou-a a afastar as pernas até criar um ninho para si.
    “Espere…”, ela disse num resfolego.
    “Algo errado?”
    “Nós… precisamos… de… preservativo.”
    Ele à beijou novamente e sorriu.
    “Espere um momento”, ele disse, novamente se levantando.
Frank apanhou seu casaco do chão e retirou um preservativo do bolso mas, antes que abrisse ela o tomou das mãos.
“Deixe-me fazer…”, ela disse.
Evelyn rasgou o pequeno envelope e, lentamente, usando ambas as mãos, envolveu o membro viril e retesado.
Posicionando-se sobre ela novamente, obrigou-a a afastar as pernas criando um ninho para si.
“Você cheira tão bem...”, sussurrou, beijando a pele macia. “Tem um gosto doce, principalmente nessa região...”,  lambeu a pele junto ao pescoço.
Evelyn riu sentindo cócegas e ajeitou os cabelos dele com os dedos.
“Alguém já disse o quanto é linda? O quanto é irresistível?”
“Bem, na verda…”, ela não conseguiu terminar pois ele tomou-lhe os lábios, calando-a.
“Você é linda e irresistível”, ele disse sorrindo.
“Pare com isso, eu não sei o que dizer…”, ela sorriu envergonhada.
“Não seja insegura… quem é a psicóloga aqui?” e beijou-lhe o pescoço.
“Frank…”, sussurrou.
“O que foi?” e sugou-lhe o mamilo novamente.
“Eu quero…”
“O quê?” disse pressionando o pênis contra a feminilidade dela. “Quer isso?”
“Sim…”, ela gemeu.
Frank beijou-a com sofreguidão e por fim, penetrou-a. Evelyn deu um grito de gemido mas foi abafado pela boca dele. Ele fazia movimentos leves e fortes ao mesmo tempo, alcançando o âmago de seu ser.
Ambos atingiram o êxtase juntos e ficaram ali por um bom tempo, recuperando as energias.
Ofegantes, os dois se olhavam incansavelmente, ambos sorrindo de leve.
"Só para ressaltar e deixar bem claro que eu não faço sexo com garotas de um jeito fácil como fiz com você…", ele disse e ela entendeu errado mas, antes de protestar calou-a colocando um dedo sob os lábios dela. "Não estou dizendo que você não significou nada, eu quis dizer que não vou para a cama com qualquer uma. Mas você Evelyn, senti uma ligação com você assim que à vi naquela fila. E eu também não costumo dizer isso para as mulheres até porque, fazem cerca de três anos que não tenho um relacionamento sério com ninguém."
"Você está querendo dizer que…"
"Que eu seria capaz de pedi-la em casamento agora, se você assim desejasse."
Ela caiu na risada.
"Casamento? Você nem me conhece."
"Claro que conheço, você é a Evelyn, tem quase 24 anos, nasceu em Liverp…"
"Certo, mas digamos que não me conhece tão pessoalmente. Podemos dizer que me conhece por fora."
Ele sorriu maliciosamente.
"Errado. Acabei de conhecê-la por dentro…", e beijou-lhe a boca.
Evelyn interrompeu o beijo com outra risada.
"Você é tão espontâneo que chega a ser engraçado."
"Depois a gente conversa sobre isso, onde fica o banheiro?"
"Siga o corredor, é a última porta à direita."
"Não saia daqui, eu já volto."
Frank se levantou e foi para o banheiro.
Evelyn também se levantou, apanhou a camisa dele no chão e vestiu-a. Foi para a cozinha e pegou uma garrafa de vinho. Demorou um pouco tentando abrir a garrafa mas foi interrompida por Frank que, por trás, abraçou-a pela cintura dando leves mordidinhas na orelha dela ao mesmo tempo.
"Precisa de ajuda?" indagou.
Evelyn se virou, ficando de frente para ele e baixou o olhar verificando que não estava mais nu, usava a calça jeans de antes.
"E para que mais servem os homens, depois de dar prazer?" ela respondeu sorrindo.
Ele entrou na brincadeira.
"Meros instrumentos sexuais e de consertos", disse.
Ela o beijou, levantando um pouco a ponta dos pés para alcançar-lhe a boca.
"Abra a garrafa de vinho, estarei esperando na sala. As taças estão naquele armário…", disse apontando, "na segunda porta."
"Dois minutos", ele disse um pouco enfeitiçado por ela estar tão perto de sua boca.
"Estarei contando", disse saindo da cozinha e se dirigindo para a sala.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Capítulo II - Insegurança.

A chuva já havia cedido um pouco e, os dois não precisaram apertar os passos para chegarem ao tão esperado pub. O ambiente estava calmo, com uma banda ao vivo tocando vários covers e, naquele momento, era “Sad, sad song” de Cat Power.
“Permita-me”, ele disse tirando o casaco dela.
“Obrigada”, ela respondeu e pegou o casaco das mãos dele.
“Aqui estamos nós. Quer ficar em uma mesa ou prefere sentar-se no bar?”
“Acho que… mesa, prefiro ficar em uma mesa.”
“Se importa de escolher uma mesa para nós dois? Eu vou pegar alguma coisa para tomarmos, tem preferência por bebida?”
“Ahm, cerveja, preciso de cerveja.”
Ele sorriu.
“Saindo uma cerveja.”
Ela mordeu o lábio e virou-se para procurar alguma mesa vaga.
Não demorou muito para achar, o pub ainda não estava tão cheio assim, era início de noite. Pegou uma perto do palco onde a banda estava e sentou-se, arrumou os cabelos com as mãos em seguida.
Frank demorou uns cinco minutos para voltar com duas garrafas de cerveja. Avistou Evelyn na mesa e se dirigiu para ela, sorrindo.
“Sua cerveja, Srta”, ele disse colocando as cervejas no centro da mesa e sentando-se logo depois.
“Obrigada, mas a próxima eu pago” e pegou uma das garrafas já dando um longo gole.
Ele apenas observou, admirando a cena. Ao fundo tocava-se “Cath…” de Death Cab For Cutie.
“Então Evelyn, tem quantos anos?” resolveu perguntar depois que também deu um gole na cerveja.
“Estou nos meus últimos dias de 23, faço 24 na semana que vem. E você?”
“Completei 28 anos hoje”, sorriu.
“Parabéns!”
“Obrigado.”
“Não deveria estar com amigos hoje? Talvez parentes…”
“Na verdade eu detesto comemorar aniversários. É só mais um ano que se passa na minha vida. Nada de mais…”, mais um gole.
“Bem vindo ao clube”, ela disse erguendo a garrafa como se fosse um comprimento. Ele ergueu uma das sobrancelhas.
“Você ainda é jovem, vai começar a se aborrecer quando as velas do bolo passarem de 25.”
“Então estou quase lá.”
Os dois riram.
“É daqui de Londres?” ele indagou, mudando de assunto.
“Não, sou de Liverpool. Moro aqui há cinco anos.”
“Veio a estudo?”
“Sim.”
“É formada em quê?”
“Psicologia. Mas pretendo fazer pós-graduação.”
“Interessante.”
Ela bebeu.
“E você? É daqui?”
“Sim.”
Ela balançou a cabeça esperando mais alguma informação, mas ele não disse mais nada. Começou a tocar “Sea And The Rhythm” do Iron And Wine.
“É formado?”
“Sou fisioterapeuta.”
“Oh! Legal.”
“É, legal.”
Ficaram em silêncio por alguns segundos. O clima estava se tornando tenso, da parte de ambos.
“Você namora ou…?” ele perguntou.
“Não, estou solteira. Não tenho muito jeito com homens.”
“Isso parece impossível.”
Ela corou.
“Não tenha tanta certeza disso.”
“É de Liverpool, terra dos Beatles, tem quase 24 anos de idade e é psicóloga, além de ser linda. O problema deve ser com os homens e não com você”, disse com um leve sorriso nos lábios.
“Talvez”, apenas disse.
Ele virou os olhos em sinal de reprovação.
“Sua vez de perguntar.”
Ela riu.
“Namora ou… um caso, casado?”
“Não, solteiro.”
“Imaginei que fosse.”
“O quê? Por quê?” indagou curioso.
“Bem, você não tem cara de alguém que namora ou algo do tipo.”
“Não?”
“Não”, afirmou balançando a cabeça de modo negativo.
“Tenho cara de quê?”
“Sei lá… espere”, ela o observou. “Você tem cara de uma pessoa fechada, daqueles que preferem a solidão.”
“Engraçado, você também”, retrucou sorrindo.
“Talvez eu prefira mesmo.”
“Não deveria.”
“Quer mudar de assunto, por favor?” rindo.
Começou a tocar “King Of The Rodeo” do Kings Of Leon.
“Eu gosto dessa música”, ele disse. “Quer dançar?”
“QUÊ?”
“Dançar. Quer dançar comigo?”
“Não, de jeito nenhum.”
“Por quê?”
“Sou um desastre dançando, sério.”
“Poxa, fica pra próxima então.”
“É, talvez depois que eu fizer algumas aulas de dança.”
Ele riu.
“Você é insegura.”
“Eu? Não sou não!”
“É sim. Todo mundo sabe dançar, só tem uns que se dão melhor nisso.”
“Ora, pare com isso.”
Ele se aproximou.
“Me fale sobre você Evelyn. Gosta de fazer o que nas horas vagas?”
“Bom, isso depende do meu estado de espírito mas, geralmente eu saio com amigos, vou ao cinema, um bar, uma boate… essas coisas que as pessoas fazem.”
“Entendi. Você faz isso porque as pessoas normais fazem e não porque gosta?”
“Não necessariamente, eu faço porque gosto também.”
“Certo.”
“E você?”
Ele ficou em silêncio pensando no que responder.
“Gosto de tomar cerveja com uma boa companhia, assim como agora.”
Evelyn sorriu.
“Boa companhia” ela repetiu.
“Sim, boa companhia.”
“Fique comigo por mais de três horas e se arrependerá do que está dizendo.”
“Tá vendo? Você é insegura.”
Ela riu exultante.
“Não sou insegura, estou apenas dizendo uma verdade.”
“Não, está se menosprezando. Se eu digo que você é uma boa companhia você diz “obrigada”. Nem parece uma psicóloga de verdade.”
“Certo.”
“Então diga.”
“Obrigada.”
“Melhor assim”, sorriu.
“Aposto que você queria ser psicólogo e, por isso disse com uma certa incerteza que era fisioterapeuta.”
Ele se aproximou mais ainda.
“E eu aposto vinte pratas que consigo te beijar sem nem ao menos tocar em você.”
Ela o encarou.
“Isso é impossível.”
“Aposte.”
“Eu aposto.”
Ele colocou uma mão na nuca dela e aproximou o rosto da mesma junto ao seu, beijando-a logo em seguida.
Foi um beijo calmo e inocente de início mas depois, deixou evidente a urgência da atração de ambos tornando-se um beijo quente e excitante. Frank à provocava com a língua, horas sugava a essência do beijo e horas acariciava o lábio inferior dela. Já Evelyn, totalmente hipnotizada pelo ato de Frank, só pôde se entregar a carícia e aproveitar o máximo que pudesse daquele momento.
Eles se separaram por falta de ar.
“Valeu perder a aposta”, foi só o que ele disse.
“Quer sair daqui?” ela indagou ainda se sentindo tonta pelo beijo.
Frank ficou surpreso com a atitude dela, achou que Evelyn ficaria nervosa ao extremo por ele ter sido tão adiantado em relação ao beijo, afinal de contas acabaram de se conhecer.
“Sair daqui?”
“É, sair daqui. E por favor responda logo, eu não costumo fazer isso, aliás, eu nunca faço isso.”
“Pra onde?”
“Meu apartamento, moro perto daqui.”
Ele apenas se levantou e puxou-a junto consigo.

domingo, 27 de junho de 2010

Sentenças do Destino - Capítulo I - Chuva.




Londres, sexta-feira dia 31 de janeiro de 2003. Na entrada da Turnmills, uma das boates mais conceituadas da cidade, está Evelyn uma jovem mulher de 23 anos. Ela, que aguarda ansiosamente por uma noite de divertimento e descanso, tem seu espírito de festa destruído quando começa a chover. Talvez não só o espírito dela, mas de todos os outros que aguardavam na fila.
"Mas que droga! O dia inteiro enrolando para chover e justamente AGORA é que essa chuva cai. Eu tenho muita sorte mesmo!" Evelyn blasfemou.
"Se fosse só você garota", disse uma outra jovem atrás dela já tirando o guarda-chuva de sua bolsa. "Ainda bem que sempre penso na chuva, esse tempo está fora do ar. Pode amanhecer o dia mais belo de toda a Londres e do nada tudo se fecha…", ela abriu o guarda-chuva. "Bem, é grande o bastante para nós duas, se você quiser é claro, a não ser que goste de tomar chuva… enfim."
Evelyn não pensou duas vezes e entrou embaixo do protetor.
"Muito, muito obrigada!" ela agradeceu.
"Disponha. Não me custa nada", sorriu. "Qual seu nome?"
"Evelyn, e o seu?"
"Anne… na verdade me chamo Annete, mas me chame de Anne, soa mais "normal"."
"Muito prazer Anne."
Sorriram mais uma vez e o assunto parou aí, neste exato ponto. Pelo menos para Evelyn já que, a imagem de um homem saindo da boate tirou todas as idéias de puxar uma amigável conversa com Anne.
"Ele está saindo? A festa mal começou e ele está saindo?" pensou. "Talvez eu… não! Você só pode estar louca, nunca o viu na vida e já quer puxar assunto com aquele rapaz? É melhor continuar na fila e conversar com a garota do guarda-chuva."
O rapaz parou onde estava e olhou para trás e olhando para o relógio no pulso logo em seguida.
"Só pode estar esperando alguém. Talvez tenha brigado com a namorada e resolveram sair da festa…"
Ele voltou a caminhar e olhou para Evelyn, assim que se aproximava da mesma.
O rapaz chama-se Frank. 28 anos e muita história para contar da vida. O fato era que ele conhecia Anne, a "garota do guarda-chuva" assim como Evelyn havia denominado, e resolveu parar por alguns segundos, apenas para cumprimentar a jovem.
"Impressão minha ou ele está se aproximando? E sorrindo? Mas…", Evelyn.
"Ei Frank! O que está fazendo aqui?" disse Anne.
Ela à beijou no rosto.
"Bem, até eu tenho uma vida social, apesar de ser difícil de acreditar", disse e olhou para Evelyn, que estava com os olhos vidrados nele. Ela corou ao perceber que estava sendo correspondida nos olhares e desviou o rosto. "Vocês são amigas?"
"Na verdade, acabamos de nos conhecer, o nome dela é Evelyn. Evelyn este é Frank.", Anne.
Eles sorriam um para o outro.
"AH, então acabaram de se conhecer?"
Ele disse esperando uma resposta da boca de Evelyn. O engraçado foi ela ficar uns segundos calada, sem saber o que dizer.
"Diga alguma coisa, diga alguma coisa."
"É, Anne me ofereceu o guarda-chuva quando começou a chover e… começamos a conversar", ela por fim disse.
"Anne e seu coração grande" ele disse sorrindo e logo depois olhou para o relógio novamente.
"Com pressa?" Anne.
"Não… eu só… eu, só quero… ir pra outro lugar."
"Hum…"
"Ir para outro lugar? É melhor eu perguntar se esta festa está um fiasco, pelo menos eu me livro disso tudo e vou embora para casa assistir um bom filme, e tomar sorvete."
"A festa está ruim?" Evelyn indagou.
"Ruim? Não exatamente, eu diria que não é o meu estilo de festa", respondeu gentilmente.
"O seu estilo é ficar em casa vendo filmes de ovnis e comendo pipoca", brincou Anne.
"Na verdade, meu amigo me deu um furo daqueles e eu não estava afim de ficar ali, sozinho. Vou para um pub*¹ aqui perto."
"Entendo", Evelyn.
"Você também não parece estar com um espírito de festa", Anne para Evelyn.
"Bem, na verdade minhas amigas me chamaram, elas já estão aí dentro mas, eu confesso que minha vontade seria estar em casa vendo um bom filme."
"Olha, eu não sou um dos melhores companheiros e… pelo fato de nós não nos conhecermos direito ainda, você pode achar estranho mas… gostaria de ir comigo? Me fazer companhia, tomar uma boa cerveja e talvez enfrentar um karaokê?" investiu Frank.
Evelyn olhou para todos os lados que podia, estava ponderando a idéia. Realmente seria loucura aceitar esse pedido, mas… se fosse assim, como poderia conhecê-lo? Frank era charmoso e emitia total segurança sobre o que estava falando e, que voz! Era dono de uma das mais belas vozes que já escutara na vida.
Pois bem, seria divertido tomar cerveja e também, fazer uma amizade nova. Se fosse uma noite ruim, daria o número de telefone errado na hora da despedida mas, se fosse boa…
"É, eu acho que seria divertido. Eu aceito."
"Ótimo!" ele comemorou, olhando para Anne logo em seguida. "E você eu nem preciso convidar, vamos também?"
"AH… sinto muito mas eu tenho um encontro aqui. Vão vocês, deixe para uma próxima vez."
"Tudo bem, então…", ele estendeu a mão para Evelyn, "vamos?"
Ela sorriu.
"Vamos", olhou para Anne. "Obrigada pelo guarda-chuva, espero que nos encontremos novamente."
"Claro, pegue o número de meu telefone com o Frank, assim podemos de marcar alguma coisa juntas, um almoço talvez."
"Pode deixar. Tchau."
"Tchau, e aproveitem."
Eles acenaram e partiram.

Pub, deriva-se do nome formal ingles “public house”. É um estabelecimento licenciado para servir bebidas alcoólicas em países e regiões de influência britânica. Embora o termo haja diferentes conotações, há pequenas diferenças entre pubs, bares, botecos e tavernas, todos eles onde bebidas alcoólicas são comercializadas. O pub que oferece acomodações pode ser chamado de “inn” ou mais recentemente chamado de “hotel” no Reino Unido. Hoje em dia muitos pubs no Reino Unido, Canadá e Austrália que ainda mantem a palavra “inn” ou “hotel” no nome não mais oferecem acomodações e em muitos casos nunca os fizeram.



Próximo capítulo ainda essa semana. 

Onde tudo começa.

-Seja bem-vinda ao mundo das letras, minha pequena.