quinta-feira, 8 de julho de 2010

Capítulo VI - Ana Chapman.

Dois meses haviam se passado e ela havia se mudado para o apartamento de Frank. Estavam tão unidos como ninguém nunca jurara que estariam. Mas como sempre dizem: a vida não é sempre um mar de rosas.
Em uma manhã de sexta-feira, a campainha de casa tocou. Evelyn estava sozinha e correu para atender a porta. Ela estava estudando um caso de um garoto novo na escola e demorou um pouco para se dar conta de que havia alguém na porta.
"Bom dia Sra.", disse um homem.
"Bom dia, em que posso ajudar?"
"O Sr. Brand está em casa?"
"Não, Frank teve um compromisso e está na rua."
"Bem…", ele pegou um papel de sua pasta e entregou para Evelyn, "poderia por favor entregar esta carta, assim que ele voltar?"
"Claro. Do que se trata?"
"É uma intimação para ele comparecer no tribunal… a audiência sobre o caso em que ele está envolvido já foi marcada. Será julgado definitivamente, enfim."
Evelyn sorriu sem compreender o que havia escutado.
"Audiência?"
"Sim, será o julgamento dele."
"Espere um pouco… julgamento de quê?"
"O réu Frank Brand está sendo acusado de estupro e porte ilegal de drogas. Ficou os últimos três anos aguardando julgamento preso e conseguiu responder em liberdade. Agora, será dada a sentença final. Culpado ou inocente."
Ela não soube o que falar, estava em estado de choque.
"Bem Sra. se me permite eu preciso ir agora. Tenha um bom dia."
Ele foi embora e ela entrou na casa trancando a porta logo atrás de si. Parecia não acreditar no que havia ouvido momentos atrás.
Isso só poderia ser um engano. Como ele, Frank, o homem mais doce que já conhecera na vida estava sendo acusado de estupro e porte ilegal de drogas? Por que ele não à contou sobre o fato?
Por fim, decidiu arrumar suas coisas e esperar Frank voltar, caso ele desse uma resposta firme sobre o que estava acontecendo, ela julgaria se ficaria ou não. Caso contrário, iria embora sem escutar nenhum tipo de explicação sobre as acusações.
Só conseguiu se concentrar na situação, quando ouviu os passos de Frank no corredor, como de costume, ele bateu na porta.
“Meu bem?” Ele à chamou.
O coração de Evelyn batia forte. Escutar a voz doce de Frank era como se nada mais existisse. Como poderia um homem como ele ser acusado de algo tão grave? Jamis imaginou que as mãos que lhe causavam calafrios poderiam ter feito mal a qualquer pessoa.
Colocando seus devaneios em seus devidos lugares, ela abriu a porta e o olhou apreensiva.
Ele não esperou que ela dissesse alguma coisa, apenas entrou, fechou a porta e à abraçou pela cintura.
“Você está cada vez mais linda, sabia disso?” Ele disse sorrindo e depois beijou-a.
Evelyn correspondeu ao beijo em primeiro momento, mas não permitiu que a magia de Frank à deixasse mais confusa ainda. Ela parou o beijo e o encarou séria.
“Algo aconteceu, querida?”
Ela não precisou dizer mais nada, apenas apontou em direção a intimação que estava sob a mesa de centro da sala.
Ele se direcionou para a mesa e apanhou o papel.
“Então… você já sabe de tudo?”
“Se eu já sei?”
Ele tentou se aproximar mas, Evelyn deu um passo para trás.
“Eve, querida… eu sei que eu errei em não ter contado antes mas, você precisa me escutar.”
“Você mentiu pra mim!”
“Não, não menti. Em momento algum eu menti pra você!”
“É com aspecto de devoção e piedade que adoçamos o próprio demônio¹.”
“Eve…”
“Você passou três anos em uma prisão e nem sequer se deu ao trabalho de me contar?”
“Eu tinha medo de sua rejeição.”
“REJEIÇÃO, Frank? Eu lido com esse tipo de situação praticamente todos os dias no meu trabalho… acha mesmo que eu não estou preparada para lidar com isso também?”
“Eu não quis em momento algum dizer isso a você.”
“Mas pareceu ser! Eu sempre digo que não devemos julgar uma pessoa por um erro ou…”
“Eu não sou culpado por essas acusações! Tudo pode levar a crer que sim, mas eu não sou!”
“Não?”
“Não. Bom, agora que você já sabe, eu lhe devo contar toda a história.”
Ela riu ironicamente.
“Já não era sem tempo. Finalmente um pingo de bom senso em seu caráter.”
“Me perdoe.”
Ela sentou-se no sofá esperando que Frank contasse o que havia acontecido. Ele, por sua vez, ficou em pé, andando de um lado para o outro e colocando seus pensamentos todos em seus devidos lugares para então, começar a contar o que acontecera em sua vida.
“Quando eu era fisioterapeuta, costumava sair muito com meus amigos de profissão. Foi em uma dessas saídas que eu conheci Ana Chapman. Ruiva, olhos azuis, o tipo de mulher que consegue enfeitiçar quem pretender. Eu era diferente do que me conhece hoje, não sabia até então o que era ficar preso por uma mulher, parecia que nada mais iria fazer sentido se eu não à tivesse por pelo menos uma noite. Não me importava se ela pertencia a outro alguém…” ele respirou fundo, como se tivesse prendendo dentro de si o enorme nojo que sentia por aquela mulher, hoje. Bem, nós conversamos por horas e por fim, decidimos ir para a minha casa… o resto eu não preciso te contar. O fato é que Ana era casada, isso eu descobri dias depois, mas se não fosse somente isso, descobri que ela era casada com um traficante de drogas e ela era uma assassina de aluguel. História de filme? Talvez. Mas eu pensei que amasse tanto que poderia faze-la ser diferente, ter uma vida… normal. Infelizmente não foi isso o que aconteceu, ela só me dizia promessas sem pé nem cabeça e estava ficando obcecada por mim, era tanto que fiquei preocupado, olhava para todos os lados da rua antes de sair de casa. Não demorou muito para que o marido dela descobrisse tudo. Eu decidi acabar com aquilo, estava cansado e percebi que havia me transformado em um monstro, sentia nojo de meu próprio ser. Ela se sentiu furiosa, disse que ia acabar com a minha vida. Pensei que ia me matar, mas ela não deixou as coisas tão fáceis, fez pior. Conseguiu fazer com que provas me acusassem de estupro em uma menor de idade. Uma garota que eu nunca vi na minha vida. Depois, fui acusado de porte de drogas…” Ele ofegou. “É fácil de imaginar como ela tenha feito isso. Escondeu-as dentro do banco de passageiro do meu antigo carro. Ninguém acreditou em mim, até porque existiam provas, que eu nunca consegui contrariá-las para mostrar que sou inocente. Fui preso, humilhado, minha família sentiu desgosto pela minha existência, desde então, passei a ter uma vida de solidão. O ódio tomou conta de mim, era o que me alimentava durante os três anos que fiquei na cadeia. O advogado que me defendeu, também tomou conta do meu dinheiro e, com isso, eu consegui pagar os honorários dele. Enfim, ele conseguiu com que eu respondesse o processo em liberdade. E aqui estou.” Frank sentou-se.
Eve nem sabia o que dizer, ela realmente lidava com esse tipo de situação quase todos os dias, mas nunca, definitivamente nunca pensou que passaria por isso. Ela amava Frank, acima de tudo, e de certa forma convenceu-se com a história.
Dentro de si, algo lhe dizia para ajuda-lo. Talvez houvesse algo que pudesse fazer. Por hora decidiu levantar. Caminhou com passos leves até ele, Frank também se levantou, e os dois deram um abraço ávido.

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