terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capítulo XI - Laurence Richmore Smith

No sábado, às oito e meia da manhã, já estavam de pé Frank e Eve. Ambos prontos para a busca por Laurence. Sabiam que ela estaria em casa, a esperança dos dois era mais forte do que qualquer outra coisa.
Resolveram ir de metrô. Iriam se expor a algo desconhecido, melhor que fossem sem o carro. Chegaram ao endereço marcado na folha de papel às nove e meia da manhã. Estavam exatamente parados em frente a casa simples da Av. Sir Ranulf Brand, 144. Uma casa de madeira revestida. Não tão velha, mas pelos maus tratos parecia uma casa antiga, quase que sem moradores. O jardim simplesmente não dava sinal de vida. Havia três roseiras, três roseiras secas em meio a uma grama quase morta rodeada de caminhos de pedras.
Um frio se passou pela barriga de Frank. Era tudo ou nada. Sua liberdade ou sua clausura.
“Procure um lugar para ficar. Assim que conseguir falar com ela eu lhe aviso e peço para que venha.” Evelyn.
“O quê? Como assim? Eu preciso falar com ela.”
“Sim querido, eu sei. Mas eu acharia estranho se um casal batesse na minha porta para colher informações sobre a minha vida.”
“Está certo.”
“Sei exatamente o que falar.”
“Confio em você.”
Eles se beijaram.
“Boa sorte, meu amor.” Frank.
“Vou precisar.”
Eve atravessou a rua e adentrou no quintal da casa, seu coração estava batendo forte. Sentia que algo estaria por dar errado, mas resolveu ignorar o pensamento e ir em frente. Tocou a campainha.
Uma senhora velha e desconfiada atendeu a porta. Havia rugas em sua testa e o mau humor lhe tomava conta da face.
“O que quer?” Ela disse depois de analisar Eve de baixo para cima.
“Gostaria de falar com a Srta. Smith. Por favor.”
“Laurence?”
“Isso. Ela se encontra?”
“Do que se trata?”
“Visita social, apenas. Sou psicóloga do centro para jovens infratores.”
“Ah, muito bem! Pois entre. Ela está tomando banho. Deseja uma xícara de chá? Está tão frio lá fora.” A senhora que parecia ser a pessoa mais ranzinza do mundo, de uma hora para outra tornou-se meiga e doce.
Já dentro da casa, Eve observou tudo o que podia. Discretamente. A senhora levou-a direto para a cozinha.
“Você é a mãe dela?”
“Sou avó. Laurence mora comigo desde que foi expulsa da casa dos pais.”
“Certo. E pode me dizer algumas coisas sobre ela?”
“É uma boa menina, me ajuda muito em casa. O que não gosto são das companhias dela. Por acaso ela se envolveu em algum problema?”
“Não senhora. Como disse, é apenas uma visita social. Ela não foi mais ao centro então me mandaram até aqui para que conversasse sobre a situação dela.”
A velha olhou para todos os lados antes que pudesse dizer alguma coisa. Olhou para Eve e disse baixinho enquanto pegava uma xícara e à enchia de chá.
“Desconfio que Lauren esteja usando drogas. Essas malditas drogas. Você pode ajudá-la? Não quero perder minha única neta para essas coisas inúteis e sem sentido.”
Eve sensibilizou-se.
“Como é o nome da Senhora?”
“Augustine. Augustine Smith.” Respondeu entregando a xícara para Eve.
“Sra. Augustine, creio que posso ajudá-la. Mas para isso Laurence precisa querer ser ajudada.”
Ela pensou e sorriu para Eve.
“Acho que ela já deve ter saído do banho, vou avisar que está esperando. Você pode esperar ali na sala, é ao lado da escada.”
“Tudo bem eu espero.”
Evelyn sentiu-se estranha. Ainda estava com a sensação de que algo iria acontecer. Talvez sentia-se assim pelo nervoso, pela ansiedade de que Laurence pudesse ajuda-la. Ignorou mais uma vez. Pensou em Frank e em como ele poderia estar nesse exato momento. Se dirigiu para a sala, sentou-se no velho sofá e olhou para a janela.
Pensou na noite que tiveram, as risadas que deram durante o jantar e os beijos quentes que trocaram durante o sexo. Ainda poderia sentir o calor de suas mãos por suas pernas. E os arrepios que sua voz lhe causavam em seu ouvido. Não poderia viver sem tê-lo por perto. Não poderia deixar que fosse preso. Seu lugar era ao seu lado, para sempre.
“Olá.” Disse Laurence entrando na sala.
Eve levantou-se.
“Srta. Smith?”
Laurence foi ao seu encontro e apertou sua mão.
“Então é do centro para jovens?”
“Exato. Vim para saber como está.”
“Bem. Relativamente bem.”
“Algo para me contar?”
“De errado?”
“Qualquer coisa.”
“Fiz dezoito anos. Terminei o colegial e não me meto mais em confusão.”
Eve sorriu ironicamente.
“Certo. Vim por mais um motivo.”
“Qual?”
“Sabe que a audiência de Frank Murray já foi marcada?”
“Sim eu sei.”
“Você foi intimada, não?”
“Sim.”
“E vai depor?”
“Tenho escolha?”
“Olha Laurence, vou direto ao ponto. Eu sei que você mentiu. Sei que está encrencada e que talvez esteja sendo ameaçada de morte caso queira contar toda a verdade.”
“Sabe?”
“Sim, eu sei.”
“Então se sabe de tudo isso por que veio? Está aqui para encher minha cabeça de ladainhas sobre contar a verdade?”
“Não.”
“Não?”
“Vim porque existem pessoas que dependem da sua escolha. Se você depor contra, talvez Frank passará anos preso. Se você fazer a escolha certa e contar a verdade, pode salvá-lo.”
Laurence riu.
“E a minha vida? Quem pode salvar?”
“Tenho muitos contatos. Posso garantir que ficará salva. Você e sua avó.”
“O que sabe sobre mim? Sobre o que eu passo desde que aquela maldita Ana Chapman me ofereceu dinheiro em troca de uma mentira? Quem é que se preocupa comigo?” Ela levantou um pouco a voz.
“Eu sei o que deve estar passando, já disse. Mas você precisa me ajudar. Vou chamar uma pessoa para conversar com você.”
“Outra?”
“Por favor Laurence. Ele depende de você. Posso garantir que ficará segura segura. Mas pense a respeito. Como pode viver com o peso nas costas de ter colocado alguém na cadeia sendo inocente?”
Laurence suspirou.
“Minha avó. Eu não posso…” Ela foi interrompida.
A senhora Smith estava escutando toda a conversa e resolveu intervir.
“Você não só pode como deve contar toda a verdade Lauren! Eu juro por Deus que não terei misericórdia e nesta casa você não entrará mais.”
Laurence olhou para Evelyn como se fosse matá-la com os próprios olhos. A raiva que estava tomando conta de seu ser era maior do que qualquer outra coisa naquele momento.

Enquanto isso, Frank estava em uma lanchonete, tomando uma xícara de café e imaginando o que estaria acontecendo com Evelyn. Será que conseguira? Talvez fosse por isso que estava demorando tanto para ligar.
Frank se deu conta de que se não fosse por ela, nada disso seria fácil. Não que estava sendo fácil até agora, mas Eve tornou muitas coisas simples. Coisas que ele não conseguira fazer antes, como descobrir esse endereço, ela fez em menos de um mês.
Pensou também em como seu advogado pareceu surpreso demais quando comunicou a ele o que havia encontrado. Claro, poderia ser porque simplesmente passaram mais de meses tentando somente confirmar este endereço.
Mas algo, para Frank, estava errado. Dr. Phill não era um desses advogados que frequentemente se sensibilizam com o seu cliente. Simplesmente fazia o que tinha de ser feito e exigia seu pagamento. Era competente até. Mas porque ele ficou tão surpreso com o fato de Evelyn ter encontrado o endereço e o telefone de Laurence? Esta era a pergunta que martelava a cabeça de Frank.
Algo estava errado e, de repente, ele ficou em estado de alerta. Se alguém fosse tão criativo à ponto, poderia enxergar uma sirene sobre a cabeça dele. Seu estado tenso era visível para qualquer um.
Imagens de Eve correndo perigo passaram por sua cabeça. E se alguém do passado, além de Laurence, estivesse naquela casa? E se a própria Ana Chapman estivesse lá? Deus! Um arrepio lhe percorreu a espinha.

Laurence chorava compulsivamente.
“Eu não queria ter feito isso. Eu era viciada, precisava de dinheiro para comprar drogas e como meus pais não me sustentavam mais, achei a proposta dela interessante. Com o dinheiro eu não precisaria me preocupar em viver nas custas deles. Achei que seria independente.” Disse em meio aos soluços.
Ela e sua avó estavam sentadas em um dos sofás velhos da sala. Eve estava de pé, andando de um lado para outro. Apesar de acreditar em Frank, sentiu-se aliviada por saber enfim que ele não tivera culpa alguma. Fora vítima de Chapman, mais uma delas.
“Ela me ameaça desde então. Manda sempre um advogado aqui em casa para que ele encha a minha cabeça de coisas. Diz que sei o que tenho que fazer para que tudo fique bem comigo e com a minha avó. Ana não tem compaixão alguma com ninguém. Para ela não há pessoa mais esperta. Eu não tinha escolha, vivia fugindo das pessoas e com medo de que voltasse para casa e não pudesse mais conversar com a minha avó. Não fiz por mal, eu era muito jovem. Tinha quinze anos e nenhum pingo de vergonha. Só Deus sabe o quanto me arrependo de ter feito algo tão cruel com uma pessoa.”
“Você disse advogado?”
“Sim. Dr. Phill.”
“Phill?”
“Sim, algum problema?”
“Eu não acredito!” Evelyn ficou chocada. “Aquele desgraçado sabia de tudo o tempo todo!”
“Como assim?”
“Está tudo bem querida, deixe isso para depois. A única coisa que preciso saber é se você vai contar toda a verdade.” Perguntou Evelyn.
“Sim, eu vou. Já está na hora de acabar com essa grande mentira.”
“Eu agradeço. Não está salvando a vida de Frank apenas, mas a minha também.”
“Mas quero a garantia de que eu e minha avó ficaremos bem.”
“Fique tranqüila. Ainda hoje resolveremos esta questão. Nem que eu tenha que levar vocês duas para o meu apartamento,” ela olhou diretamente para Laurence, “você pode vir comigo um instante?”
“Posso.”
“Bem, façamos o seguinte. Façam suas malas, irei levá-las ao meu antigo apartamento. Lá vocês poderão ficar em segurança. Ninguém irá desconfiar de nada.”
“Certo.” Laurence.
“Preciso que liguem e peçam um táxi. Vou ligar para Frank vir até aqui, posso?”
“Claro!”
Eve estava explodindo de felicidade por dentro, apesar de não demonstrar agora. Ligou para Frank e pediu para que viesse até a casa. Apenas alertou de que tinha boas notícias.
Ele não demorou muito para chegar. Mal tinha desligado e telefone e já estava batendo na porta.
Evelyn foi quem abriu.
“Meu amor, conseguimos!” Disse ela com um enorme sorriso estampado no rosto.
“Ela vai contar toda a verdade?” Indagou surpreso.
“Sim. Mas como me pediu a garantia de que eu à deixe em segurança, vou levá-la para o meu antigo apartamento. Lá ninguém desconfiará de nada. Levarei ela e a avó dela.”
“Tudo bem. E onde estão as duas nesse momento?”
“Foram arrumar as coisas delas.”
“Chamaram um táxi?”
“Sim, já providenciamos.”
“Ah meu amor!” Ele à abraçou. “Não sabe o quanto estou feliz agora.”
“Eu sei, também estou.” Ela se desvencilhou do abraço. “Ainda temos que resolver uma coisa.”
“O quê?”
“Dr. Phill, ele sabia o tempo todo de Laurence.”
“Como sabe disso?”
“Ela me contou que Chapman mandava um advogado para que ele ficasse pressionando ela a nunca contar a verdade sobre você. Esse advogado é Phill. O seu advogado. E é por isso que você ficou tanto tempo na mesma sem poder descobrir nada. Nesse exato momento ele deve estar contando para Chapman que estamos aqui. Ela deve aparecer em qualquer momento.”
Frank estava perplexo. Não conseguia organizar os pensamentos.
“Céus Eve, você corre perigo!”
“Não se preocupe comigo. Precisamos acima de tudo colocar aquelas suas mulheres em segurança.”
“Eve, deixe que faço isso. Se algo acontecer com você jamais me perdoarei.”
“Frank, meu bem. Relaxe, ainda temos tempo.”
“Eve me escute, por favor!”
“Frank! Chega. Vamos levá-las para o meu apartamento e depois pensamos no que fazer. Nada vai acontecer comigo. Não se preocupe.”
Ele se acalmou.
“Tudo bem.”
Uma buzina pode ser ouvida lá fora.
“Acho que o táxi chegou.” Ela disse indo para a porta.
Laurence e a Sra. Smith desceram as escadas com três malas. Frank nem olhou para o rosto de Laurence, apenas apanhou duas bolsas e levou-as correndo para o táxi.

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