terça-feira, 29 de junho de 2010

Capítulo II - Insegurança.

A chuva já havia cedido um pouco e, os dois não precisaram apertar os passos para chegarem ao tão esperado pub. O ambiente estava calmo, com uma banda ao vivo tocando vários covers e, naquele momento, era “Sad, sad song” de Cat Power.
“Permita-me”, ele disse tirando o casaco dela.
“Obrigada”, ela respondeu e pegou o casaco das mãos dele.
“Aqui estamos nós. Quer ficar em uma mesa ou prefere sentar-se no bar?”
“Acho que… mesa, prefiro ficar em uma mesa.”
“Se importa de escolher uma mesa para nós dois? Eu vou pegar alguma coisa para tomarmos, tem preferência por bebida?”
“Ahm, cerveja, preciso de cerveja.”
Ele sorriu.
“Saindo uma cerveja.”
Ela mordeu o lábio e virou-se para procurar alguma mesa vaga.
Não demorou muito para achar, o pub ainda não estava tão cheio assim, era início de noite. Pegou uma perto do palco onde a banda estava e sentou-se, arrumou os cabelos com as mãos em seguida.
Frank demorou uns cinco minutos para voltar com duas garrafas de cerveja. Avistou Evelyn na mesa e se dirigiu para ela, sorrindo.
“Sua cerveja, Srta”, ele disse colocando as cervejas no centro da mesa e sentando-se logo depois.
“Obrigada, mas a próxima eu pago” e pegou uma das garrafas já dando um longo gole.
Ele apenas observou, admirando a cena. Ao fundo tocava-se “Cath…” de Death Cab For Cutie.
“Então Evelyn, tem quantos anos?” resolveu perguntar depois que também deu um gole na cerveja.
“Estou nos meus últimos dias de 23, faço 24 na semana que vem. E você?”
“Completei 28 anos hoje”, sorriu.
“Parabéns!”
“Obrigado.”
“Não deveria estar com amigos hoje? Talvez parentes…”
“Na verdade eu detesto comemorar aniversários. É só mais um ano que se passa na minha vida. Nada de mais…”, mais um gole.
“Bem vindo ao clube”, ela disse erguendo a garrafa como se fosse um comprimento. Ele ergueu uma das sobrancelhas.
“Você ainda é jovem, vai começar a se aborrecer quando as velas do bolo passarem de 25.”
“Então estou quase lá.”
Os dois riram.
“É daqui de Londres?” ele indagou, mudando de assunto.
“Não, sou de Liverpool. Moro aqui há cinco anos.”
“Veio a estudo?”
“Sim.”
“É formada em quê?”
“Psicologia. Mas pretendo fazer pós-graduação.”
“Interessante.”
Ela bebeu.
“E você? É daqui?”
“Sim.”
Ela balançou a cabeça esperando mais alguma informação, mas ele não disse mais nada. Começou a tocar “Sea And The Rhythm” do Iron And Wine.
“É formado?”
“Sou fisioterapeuta.”
“Oh! Legal.”
“É, legal.”
Ficaram em silêncio por alguns segundos. O clima estava se tornando tenso, da parte de ambos.
“Você namora ou…?” ele perguntou.
“Não, estou solteira. Não tenho muito jeito com homens.”
“Isso parece impossível.”
Ela corou.
“Não tenha tanta certeza disso.”
“É de Liverpool, terra dos Beatles, tem quase 24 anos de idade e é psicóloga, além de ser linda. O problema deve ser com os homens e não com você”, disse com um leve sorriso nos lábios.
“Talvez”, apenas disse.
Ele virou os olhos em sinal de reprovação.
“Sua vez de perguntar.”
Ela riu.
“Namora ou… um caso, casado?”
“Não, solteiro.”
“Imaginei que fosse.”
“O quê? Por quê?” indagou curioso.
“Bem, você não tem cara de alguém que namora ou algo do tipo.”
“Não?”
“Não”, afirmou balançando a cabeça de modo negativo.
“Tenho cara de quê?”
“Sei lá… espere”, ela o observou. “Você tem cara de uma pessoa fechada, daqueles que preferem a solidão.”
“Engraçado, você também”, retrucou sorrindo.
“Talvez eu prefira mesmo.”
“Não deveria.”
“Quer mudar de assunto, por favor?” rindo.
Começou a tocar “King Of The Rodeo” do Kings Of Leon.
“Eu gosto dessa música”, ele disse. “Quer dançar?”
“QUÊ?”
“Dançar. Quer dançar comigo?”
“Não, de jeito nenhum.”
“Por quê?”
“Sou um desastre dançando, sério.”
“Poxa, fica pra próxima então.”
“É, talvez depois que eu fizer algumas aulas de dança.”
Ele riu.
“Você é insegura.”
“Eu? Não sou não!”
“É sim. Todo mundo sabe dançar, só tem uns que se dão melhor nisso.”
“Ora, pare com isso.”
Ele se aproximou.
“Me fale sobre você Evelyn. Gosta de fazer o que nas horas vagas?”
“Bom, isso depende do meu estado de espírito mas, geralmente eu saio com amigos, vou ao cinema, um bar, uma boate… essas coisas que as pessoas fazem.”
“Entendi. Você faz isso porque as pessoas normais fazem e não porque gosta?”
“Não necessariamente, eu faço porque gosto também.”
“Certo.”
“E você?”
Ele ficou em silêncio pensando no que responder.
“Gosto de tomar cerveja com uma boa companhia, assim como agora.”
Evelyn sorriu.
“Boa companhia” ela repetiu.
“Sim, boa companhia.”
“Fique comigo por mais de três horas e se arrependerá do que está dizendo.”
“Tá vendo? Você é insegura.”
Ela riu exultante.
“Não sou insegura, estou apenas dizendo uma verdade.”
“Não, está se menosprezando. Se eu digo que você é uma boa companhia você diz “obrigada”. Nem parece uma psicóloga de verdade.”
“Certo.”
“Então diga.”
“Obrigada.”
“Melhor assim”, sorriu.
“Aposto que você queria ser psicólogo e, por isso disse com uma certa incerteza que era fisioterapeuta.”
Ele se aproximou mais ainda.
“E eu aposto vinte pratas que consigo te beijar sem nem ao menos tocar em você.”
Ela o encarou.
“Isso é impossível.”
“Aposte.”
“Eu aposto.”
Ele colocou uma mão na nuca dela e aproximou o rosto da mesma junto ao seu, beijando-a logo em seguida.
Foi um beijo calmo e inocente de início mas depois, deixou evidente a urgência da atração de ambos tornando-se um beijo quente e excitante. Frank à provocava com a língua, horas sugava a essência do beijo e horas acariciava o lábio inferior dela. Já Evelyn, totalmente hipnotizada pelo ato de Frank, só pôde se entregar a carícia e aproveitar o máximo que pudesse daquele momento.
Eles se separaram por falta de ar.
“Valeu perder a aposta”, foi só o que ele disse.
“Quer sair daqui?” ela indagou ainda se sentindo tonta pelo beijo.
Frank ficou surpreso com a atitude dela, achou que Evelyn ficaria nervosa ao extremo por ele ter sido tão adiantado em relação ao beijo, afinal de contas acabaram de se conhecer.
“Sair daqui?”
“É, sair daqui. E por favor responda logo, eu não costumo fazer isso, aliás, eu nunca faço isso.”
“Pra onde?”
“Meu apartamento, moro perto daqui.”
Ele apenas se levantou e puxou-a junto consigo.

Um comentário:

  1. uaaaaal! WONDERFUL.
    Amiga, tá incrível. Parabéns, me deu realmente vontade de estar ali, sentada na mesa ao lado, senti o cheiro e a presença das pessoas. Até ouvi a banda tocando. Você escreve muito bem.

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